Qualquer atividade humana impacta de alguma forma o meio ambiente. Algumas menos, outras muito mais. Segundo o United Nations Environment Programme (Unep), o setor da construção é responsável por até 30% de todas as emissões de gases que contribuem ao efeito estufa. Atividades como mineração, processamento, transporte, operação de indústria e combinação de produtos químicos resultam na liberação de gases como o CO2, CH4, N2O, O3, halocarbonos e vapor d’ água. Estes, quando lançados na atmosfera, absorvem uma parte dos raios do sol e os redistribuem em forma de radiação na atmosfera, aquecendo o planeta. Com uma quantidade desenfreada de gases sendo lançados cotidianamente, essa camada é engrossada, fazendo com que a radiação solar entre e não consiga sair do planeta, acarretando em impactos quase incalculáveis para a humanidade, como desertificação, derretimento das geladeiras, escassez de água, tempestades, furacões, inundações, alterações de ecossistemas, redução da biodiversidade.
Como arquitetos, uma das nossas maiores preocupações deveria ser de que forma é possível diminuir as emissões de carbono incorporados nas construções. Conseguir mensurar, quantificar e qualificar os impactos é um primeiro caminho.
O termo Energia Incorporada ou Carbono Incorporado refere-se à soma do impacto de todas as emissões de gases de efeito estufa atribuídas a um material ao longo de seu ciclo de vida. Isso abrange desde a sua extração do solo, a fabricação, a construção em si, sua manutenção, até o fim da vida útil e o seu descarte. Por exemplo, o concreto armado é um material com uma energia incorporada extremamente alta. Isso porque, ao fabricar o cimento, grandes quantidades de CO2 são liberadas na etapa da calcinação, em que o calcário é transformado em óxido de cálcio (cal virgem), e também na queima de combustível fóssil nos fornos. Soma-se aí toda a exploração de areia e pedras, o ferro para a armadura, o transporte de tudo isso para serem agregadas à mistura e chegarem às obras, e pode-se entender que tipo de impacto cada decisão de projeto tem no meio ambiente. Outros materiais de construção, como cerâmicas, tijolos e plástico, demandam altas quantidades de energia para fabricação, uma vez que os minerais e minérios usados neles necessitam ser extraídos e manufaturados em processos energeticamente intensivos para extraí-los e disponibilizá-los para a construção.
É importante salientar que há dois tipos de emissões de carbono quando abordamos as edificações: Carbono Incorporado e Carbono Operacional. Este último refere-se a todo o dióxido de carbono emitido durante a vida útil de um edifício, como o consumo de eletricidade, o aquecimento, resfriamento, entre outras atividades.
Entender sobre a quantidade de energia ou carbono incorporado em um material de edificação é interessante para tomar decisões de especificação em projetos mais conscientes. Um material sustentável em uma localidade pode ter uma carga energética alta em outro, por conta da disponibilidade local e do tipo de transporte envolvido, por exemplo. Um método padronizado usado para quantificar os impactos ambientais dos edifícios, desde a extração de material e a fabricação do produto até o uso, o fim da vida útil e o descarte é a Avaliação do Ciclo de Vida Ambiental (ACV). Através de uma metodologia quantitativa, obtêm-se resultados numéricos que refletem as categorias de impacto e proporcionam comparações entre produtos semelhantes. A Universidade de Bath (Reino Unido), por exemplo, estimou o conteúdo energético dos principais materiais usados em todo o mundo.
Há também ferramentas em desenvolvimentos que prometem tornar o processo mais fácil. A Autodesk, junto à Carbon Leadership Forum, em colaboração com outras empresas de construção e de softwares, desenvolveu a ferramenta EC3 - Embodied Carbon in Construction Calculator (Calculadora de Carbono Incorporado na Construção), que está disponível em versão beta pública. A ideia é fornecer aos usuários as informações necessárias para tomar decisões mais informadas sobre o carbono incorporado para cada um dos elementos de uma construção, permitindo escolhas inteligentes, conscientes e acessíveis até mesmo para não especialistas. Como sempre, estar conscientes das escolhas é a melhor forma de tornar os processos mais inteligentes e sustentáveis.
Publicado em 06/01/2020 e atualizado em 26/02/2021